Reflexões de um ébrio

O copo voltava mais uma vez para o balcão. O uísque barato lhe passava pela garganta como água – no estado em que ele se encontrava, poderia dar no mesmo – e pediu mais uma dose.
Foi um dia horroroso, desde a hora que acordou. Dia estressante no trabalho, discussão de relacionamento pelo telefone, todos por motivos minúsculos. A única solução encontrada foi se esconder no seu lugar favorito: um bar perdido no subúrbio da metrópole, daqueles que eram o próprio retrato da decadência, se esta tivesse um rosto.
Gostava de ir ali por causa dos tipos de pessoas que ali frequentavam. Amantes, jovens rebeldes, alcoólatras interessantes e várias espécies de homens que assim como ele, tinham uma vida excessivamente normal: trabalhavam o dia todo, tinham uma lista de contas para pagar, família para sustentar e em um momento de horror à essa vida chata afogavam seus pensamentos em uma mesa de bar.
Após a análise dos seus clientes, ele se detinha em olhar a decoração do local. Era uma viagem de volta às décadas de 80 e 90, caindo aos pedaços. Mas a nostalgia da juventude vinha de uma forma tão proveitosa que as velhas paredes se tornavam grandes telas dos sonhos perdidos.
Embora fosse tão decadente, acolhia com tanto amor e tanta compreensão todos aqueles problemas, medos e dúvidas, além de ser cenário da maior parte de suas grandes decisões. Ninguém sabia desse lugar, nem mesmo o melhor amigo. Ali era a exceção do resto, o oásis no meio do deserto cinzento.

Ah, a bebida já começava a lhe causar enjoos. Ou seja, era a hora de voltar para o mundo real e aos velhos costumes e percursos. Pagou a conta e saiu resignado, pronto a enfrentar o que lhe esperava no seu mundo feito de encontros e desencontros.

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