Recomeço

Estava tudo certo. As malas, prontas para a partida. Só precisava fechar a porta. Era a tarefa mais difícil, pois aquela casa fora cenário da mais bela história de amor, que acabara assim, tão de repente. As lembranças voltavam de uma forma violenta, em um turbilhão de beijos, momentos, risos e jantares, passeios, fotos. Tudo era parte daquele doce e apimentado amor...
Agora, a casa estava vazia... O táxi já buzinava lá fora, no portão.
"Ok", pensou. "É hora de ir agora..."
Mas as pernas não deixavam... a tristeza dominava aquele rápido sentimento de força que apossara de seu corpo frágil e febril. As lágrimas teimavam em fazer seu solitário percurso sobre seu rosto delicado.
Não, ela tinha que partir. Enxugou o rosto, foi até o portão e pediu a ajuda do taxista que, muito gentil, carregou suas malas até o carro. Então, dando um último olhar, fechou a porta, colocou as chaves debaixo do vaso de margaridas como de costume e saiu... e dessa vez era para sempre.
O percurso e o mundo a sua volta sumiam, dando lugar novamente as lembranças felizes de um tempo perdido no passado. Iniciar uma nova vida agora era tão distante e impossível... imaginar uma outra pessoa ocupando seu lugar, na sua casa era uma ofensa, uma traição. De repente, o ruído ensurdecedor da cidade voltava aos seus ouvidos...
"Que barulho era aquele, meu Deus! Como vou suportar essa bagunça de novo?"
Finalmente, o táxi chegou ao seu destino final. O prédio era bem conhecido e familiar. Parecia ter voltado três anos antes, quando morava ali com as colegas de universidade. A única diferença era que naquele dia, ela iria ser apenas ela, morando sozinha, desfazendo suas malas e tentando esquecer a dor.

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